O grupo Caldas Furtado ainda possui futuro político em
Brejo? Sim, possui. Sobretudo se os eleitores brejenses forem acometidos por
uma amnésia coletiva na campanha de 2020. Não se surpreendam com esta condição
que lhes digo, pois não se trata de uma ironia - embora desejasse que fosse
apenas isso -, mas é uma realidade do cenário político interiorano de onde em
raras ocasiões se tem a sorte de mudar este destino. Por quatro anos as pessoas
sofrem humilhações, padecem com serviços públicos defasados, tem seus direitos
negados; porém, basta iniciar uma campanha política que todos se resignam,
perdoam os pecados sociais praticados por seus candidatos e levantam bandeira
em louvor a eles. Esquecem tudo que aconteceu. Isto é um truque mágico
conseguido a cada quatro anos graças aos engôdos da demagogia típica de um
período eleitoral. Ainda sim, me questiono se haveriam cartas nas mangas do
grupo Caldas Furtado para realizar esse truque caso pretendam uma sobrevida
política daqui a quatro anos!
Este grupo, que somados possuem dezesseis anos de dominação
política em Brejo, na verdade, como todos sabem, é formado por dois grupos que
até 2012 eram arquirrivais políticos. Os dois, nos anos de inimizade, dividiram
o eleitorado brejense e protagonizaram célebres episódios de disputa pelo
poder. Infelizmente, as lembranças que se tem deste período não são tão
honrosas, pelo contrário, o que se salva na memória são apenas as baixarias,
acusações pessoais e apelidos inspirados na fauna brasileira que resiste até
hoje. Inclusive, resquícios desta rixa foram parar subliminarmente em um livro
lançado à época dos quais apenas bons olhos conseguem ver as alegorias
escondidas nas entrelinhas. Por um suposto milagre de Santa Roseana Desatadora
de Rixas Políticas, o grupo se perdoou em 2012, uniram-se e venceram a eleição.
Abrindo mão da ironia, todos nós, em maior ou menor grau,
sabemos que a política é bem menos romântica do que parece. Temos hoje
esclarecimento que essas uniões, tal como ocorreu com eles, não é exatamente
resultado de perdão algum ou motivado “bem do povo”, ultrapassado discurso. É, antes
de tudo, um acordo, um negócio, que não visa o bem comum, mas sim o interesse
próprio do grupo político. A união é e só pode ser vista sob este víeis. O
slogan “O BREJO QUE QUEREMOS”, usado por eles, toma um novo sentido dentro
deste contexto. Não se trata da projeção de um projeto de melhoria para a
cidade, mas um projeto de dominação e controle social que estes ansiavam. Mas o que se seguiu, e o que era de se esperar, nos anos seguintes de governo foi a total
perca de esperança da população ao passo que se construía uma grande desilusão
com esses dois grupos, agora um. Brejo nunca esteve em tão péssimas condições
como está hoje, ao fim do mandato deste grupo. Sabemos que tragicamente foram atingidos por uma fase de crise econômica no país, mas não souberam driblar. A crise não serviu de impulso para novas alternativas e ousadia para superação, serviu para desculpas. Mas o que foi que deu errado? Afinal
tinha tudo para dar certo.
O grupo se uniu por um objetivo comum, absoluto: derrotar Zé
Farias, desafeto de ambos. Esse era o anseio partilhado por ambos os lados do
“grupão”. Mas existiam/existem, obviamente, interesses relativos, particulares,
e estes, eram díspares. Somente entendendo esse desencontro de interesses é que
podemos conjecturar o motivo pelo qual esta gestão foi desarmoniosa,
infrutífera e decepcionante. A prefeitura foi repartida como quem reparte um bolo
e a cada beneficiado foi dado a liberdade de agir conforme aprouvesse. Foi este
movimento de engrenagens independentes que, a meu ver, deixou até o próprio
gestor em maus lençóis sem saber como lidar com esta situação. Isto é tão
verdade que por este motivo iremos entender o porquê a primeira gestão de Omar
em 2005 a 2008 foi tão brilhante e eficaz. Omar nesta época tinha mais controle
e pode governar muito melhor porque tinha ao seu comando somente pessoas de sua
confiança, amigos e familiares, assim era mais fácil o diálogo e administração.
Com a fusão dos Caldas em 2012, o grupo cresceu, antigos desafetos se tornam
companheiros de trabalho, os interesses já não eram tão alinhados, teve que
pagar dívidas morais com quem os apoiou e o resultado direto foi o que vimos
nas ruas e nos serviços públicos: decepção. A carreira política de Omar está na
berlinda, a imagem desgastada, mas ainda assim um incrível e respeitado médico. Esta sem dúvidas é sua melhor vocação. Ele sairá da prefeitura com baixa popularidade e
enxovalhado de críticas. A péssima repercussão de sua gestão interferiu diretamente
na imagem de Olívia Caldas, resultando na maior rejeição que um candidato já
teve em Brejo.
Se este grupo terá ainda futuro político é uma pergunta que
deve ser feita após responder outra pergunta: eles continuarão juntos? Bom,
sondando algumas pessoas, chegou ao meu conhecimento que em 2012 o acordo do
grupo consistia na seguinte cláusula informal: 1. Chico Caldas apoiaria Omar desde que
Olívia fosse candidata em 2016; 2. Se Olívia ganhasse, ela concorreria à
reeleição ou teria o direito de indicar um nome; 3. Se Olívia perdesse, então
Omar indicaria o próximo candidato. Caso o acordo tenha sido realmente feito
sob esses moldes, o próximo nome à prefeitura será indicação do lado Furtado do
grupo. Mas eis outra questão... Olívia Caldas começou sua carreira política
agora, fez uma boa campanha, apesar de não ter vencido, mas consolidou um grupo
promissor. E não se enganem a conquista de Olívia é total mérito dela e de sua
equipe, especificamente a equipe de jovens dos quais despontou nomes como Pablo
Emanoel, jovem promissor. Ela iniciou uma trajetória que pode dar bons frutos dependendo do
sucesso ou insucesso de Zé Farias a partir de Janeiro de 2017. Ela abriria mão dessa chance de continuar o
trabalho iniciado este ano para aplaudir outro candidato? E os Furtados vão
querer Olívia Caldas lhes representando outra vez, ou teriam eles outra aposta?
Se pensarmos no grupo dividido, apenas um nome, por
enquanto, teria forças para restabelecer politicamente os Furtados: Samia. A
irmã do atual prefeito tem personalidade forte, possui a predileção de um
grande eleitorado. Resultado disso são os expressivos resultados que obteve até
hoje concorrendo à vereadora. Outro nome, dentro do grupo, que pudesse dar uma
futura chance ainda não existe além dela.
Mas enquanto estão juntos, se quiserem um futuro na política
desta cidade, unidos ou separados, é bom que cuidem disso o quanto antes. No
momento, talvez ainda abalados pelo massacre nas urnas, estão fazendo algumas
coisas nada ortodoxas e que pode ser ressuscitado contra eles daqui há quatro anos.
A transição está sendo turbulenta, não há uma colaboração gentil, pelo
contrário, até situações de desentendimento e bate-boca já teria ocorrido. Estes
três últimos meses foram um rastro de desastres grotescos. Profissionais da
saúde, por exemplo, recorreram ao Ministério Público apresentando denúncia pelo
atraso de dois meses de salário e o décimo terceiro. Interpreta-se que isso se
trata de manobra para já prejudicar a nova gestão que vem batendo à porta. O
grande desafio deste grupo, repito, unido ou separado, vai ser superar a mancha
negra de pior administração da história deixado nestes quatro anos, pois
passado, meus caros, ainda condena!